Troca de amortecedor: como fazer de forma assertiva e economizar tempo

No ambiente das oficinas mecânicas, existe um atributo que se destaca: a qualidade dos serviços prestados. Por conta disso, você sempre deve se manter atento aos fatores que mais importam no momento de conquistar novos clientes: a capacitação técnica e a eficiência nas entregas. Mesmo que o preço seja um ponto importante, lembre-se que a maioria deles dá valor ao custo-benefício, que envolve manutenções e reparos bem realizados, além de um pós-vendas encantador.
Sendo assim, aproveitamos este conteúdo para abordar uma das ordens de serviço mais recorrentes nas oficinas: a troca do amortecedor. Dessa maneira, acreditamos que você poderá reforçar aquilo que já sabe e até mesmo aprender novos detalhes para aprimorar a execução desse procedimento. Agora, acomode-se em sua cadeira e embarque em mais uma jornada técnica conosco!
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Visão geral da troca de amortecedor
Como sabemos, esses componentes são fundamentais na absorção das irregularidades do solo, conferindo conforto, estabilidade e sobretudo, segurança aos motoristas. É por essa razão que qualquer equívoco no manuseio, equalização ou demais procedimentos implicarão em uma peça mal instalada, que cedo ou tarde se transformará em um inconveniente ao motorista.
Sim, nós sabemos que você já mantém os olhos atentos a esses detalhes, mas não custa reforçar, não é mesmo? Focando apenas na troca do amortecedor, percebemos que existem alguns erros comuns, que podem ser evitados quando o profissional encara a manutenção com um olhar mais aberto sobre todo o conjunto.
Até certo ponto, esses erros são compreensíveis, pois entendemos a correria de uma oficina mecânica, que precisa equilibrar agilidade, eficiência e qualidade na prestação dos serviços. Mas como você já pode deduzir, a satisfação do seu cliente sobe na mesma proporção que esses errinhos desaparecem.
Quando você se dedica um pouco mais de tempo nas análises, os diagnósticos acabam sendo mais certeiros. No longo prazo, isso se converte em economia de tempo, pois não precisará trabalhar uma segunda vez em um veículo com o mesmo problema. Agora, vamos refrescar a memória e dar uma olhada nesses erros.
Montagem em posição errada
Pode soar óbvio, mas a simples interpretação equivocada do manual de instruções foi suficiente para causar um problema generalizado nas manutenções dos amortecedores traseiros de inúmeros Honda Fit. Essa foi uma situação bastante recorrente, que acontecia quando os profissionais montavam as duas buchas em posições opostas.
Como o problema foi relativamente popular, também é possível que o folheto de instruções não tenha sido tão informativo assim, com desenhos pouco explicativos ou algo do gênero. Ainda assim, esses modelos ficaram famigerados no mercado, pois apresentavam barulhos e incômodos aos proprietários, que não sabiam que o problema vinha do procedimento mal realizado, e não da peça em si.
Diagnóstico “palavra do cliente”
Nós entendemos a importância do relato do cliente (e, inclusive, recomendamos total atenção nele quando estiver relatando um problema!). Porém, você sempre deve valorizar o seu conhecimento técnico, evitando partir para a solução só com a abordagem relatada pelo proprietário. Para contornar essa situação, é muito importante realizar um teste de rodagem, uma prática simples e que pode eliminar erros ao momento das substituições.
Um teste eficaz deve circular por uma área que estimule o componente examinado. Tratando-se de amortecedores, recomendamos que você trafegue por ruas com lombadas, pavimentadas com paralelepípedos e demais depressões. Com isso, você dará a oportunidade da peça manifestar seu problema, por meio de ruídos, baques ou falhas.
Mas só isso não basta! Ao rodar com o veículo, você precisa anotar todos os sintomas percebidos durante o trajeto, garantindo que os defeitos serão abordados e resolvidos ao momento da manutenção final. Para tanto, você pode contar com um checklist, marcando os problemas sempre que perceber alguma anomalia durante a rodagem.
Manuseio inadequado
Essa é uma situação comum em nossos Serviços de Atendimento ao Cliente. A exemplo, utilizaremos as reclamações que apontam o vazamento de óleo do amortecedor. Como habitual, essas peças retornam para nós para que possamos examinar o componente e refinar nossos projetos. No entanto, percebemos que boa parte desses incidentes aconteciam por um erro de manuseio.
Ao analisar essas peças, há um padrão: a haste do amortecedor costumava estar danificada, com chanfros causados pelo manuseio inadequado da ferramenta utilizada na montagem. Logo, é importante lembrar um ponto: a fabricação dessas hastes passa por um processo rigoroso de usinagem e cromação, justamente com o intuito de reduzir o atrito da peça com o sistema de vedação, motivo pelo qual ela precisa ser lisa e sem obstruções.
Conforme examinamos, as marcas nas hastes indicaram o uso do alicate de pressão, para que se segurasse a peça durante a fixação da porca superior. O problema aqui é que essa ferramenta deixa ranhuras profundas na extensão da peça, que causará o vazamento de óleo por todo o componente durante seu funcionamento.
Nós entendemos que o acesso à porca superior do amortecedor costuma ser bem difícil em vários modelos. É por isso que você sempre deve priorizar a utilização da ferramenta adequada, com uma chave fixa ou allen.
Falta de análise
Essa é uma situação comum — e, como destacamos mais cedo, compreensível. Mas aqui vale resgatar aquele dizer popular: a pressa é inimiga da perfeição! Até mais do que isso, pois chega a ser inimiga da própria eficiência e agilidade. O mecânico de confiança entende a importância de cada etapa para o sucesso do diagnóstico e reparo, realizando teste de rodagem, manuseando as peças corretamente e prestando muita atenção aos procedimentos (acabamos de descrever você, não é mesmo?).
Ainda assim, existe uma prática que tem o poder de agilizar todo o serviço: a análise geral da suspensão, em que se eleva o veículo para observá-lo por baixo. Acredite, esse método tão simples pode ser o suficiente para que você identifique a fonte do problema, que costumar vir de peças como:
- o suporte da barra do tensor;
- o coxim do amortecedor;
- a bucha de suspensão;
- o terminal de direção;
- o protetor de cárter;
- a caixa de direção;
- o terminal axial;
- o escapamento;
- o pivô da suspensão.
Como é possível notar, desses nove componentes, existem aqueles que não tem relação alguma com o amortecedor — como é o caso do escapamento e do protetor de cárter, que são uma fonte certeira e constante de ruídos quando mal fixados. Inclusive, fica a dica para que você estenda essa análise para o porta-malas, em que ferramentas e estepes soltos podem emitir ruídos que se confundem com problemas no amortecedor traseiro durante o teste de rodagem.
Peças novas e insuspeitas
Esse pode ser um erro silencioso e prejudicial ao bolso do cliente. Muito provavelmente, o cotidiano da oficina já ensinou a você que peça nova não é sinônimo de ausência de problema. Como exemplo, citamos o caso de um dos nossos Feras da Oficina Nakata, Rafael Zutin. Ele recebeu um Sandero Stepway, que acusava falhas no amortecedor durante o teste de rodagem, mas estava impecável na análise geral, já que as peças eram novas e perfeitamente alinhadas.
Mas foi aqui que ele se destacou como um herói da oficina. Curioso, ele desmontou e examinou o código de fabricação de cada um dos componentes até identificar que os amortecedores que equipavam o modelo do seu cliente eram da versão comum do Sandero — e não a aventureira Stepway. Por questões de proposta estética e de condução, a versão urbana conta com hastes menores, enquanto a aventureira, maiores.
Equalização dos amortecedores
De maneira resumida, é possível concluir que todos os erros acima podem ser contornados com uma boa dose de calma e atenção. Com o foco e o tempo adequado, você consegue atender a todos os critérios de uma manutenção, da posição das peças e sintomas do veículo até às possibilidades de falha.
Por conta disso, chegamos em um segundo procedimento, igualmente importante para o funcionamento dos amortecedores: o escorvamento, também conhecido como sangria ou equalização. Como você já sabe, esse é o método responsável pela expulsão do ar presente no interior do tubo da peça — e justamente por isso que essa é uma prática realizada antes da instalação.
O procedimento é simples e rápido, o que reforça o motivo para executá-lo todas as vezes que for necessário. Quando se ignora essa etapa, o cliente percebe a falha durante a condução, escutando ruídos que podem induzir à repetição do trabalho as suas custas. Sendo assim, aquela análise profunda e certeira vai ser sua melhor amiga para realizar um reparo preciso logo de primeira!
Para equalizar o amortecedor, não tem segredo! Primeiramente, você deve posicioná-lo na posição de trabalho, com a haste metálica apontando para cima. Então, você começará o procedimento de escorvamento, pressionando a haste para baixo até que atinja o final do curso. Depois, você puxa a haste para cima, em um movimento lento e ininterrupto.
Feito isso, basta repetir esse movimento por, no mínimo, 5 vezes, certificando-se de que você removeu todo o ar presente no tudo interno da peça. Mas aqui vale notar que esse número não é um teto máximo, só uma recomendação — confie na sua percepção! Caso perceba que ainda existam vazios durante o acionamento da haste, é interessante continuar o procedimento até que essa sensação desapareça por completo.
Por fim, uma última dica valiosa: não deixe o componente deitado após realizar esse procedimento. Com a peça na horizontal, é grande a probabilidade de que o trabalho seja desperdiçado, enchendo o amortecedor com novas bolhas de ar.
Substituição dos amortecedores passo-a-passo
Certo! A equalização está feita e os amortecedores estão prontos, aguardando para serem instalados. Mas antes de colocar a mão na massa, é importante notar um ponto: o procedimento de substituição varia bastante de um modelo para o outro.
Por conta disso, o tutorial que você acompanhará a seguir não pode ser replicado em todos os veículos que aparecem na sua oficina, combinado? Neste passo a passo, utilizamos como exemplo um Fiat Palio da primeira geração, que além de ser um carro bastante popular, também facilita o procedimento nos outros modelos da família, como o Siena, a Weekend e a Strada.
Nós entendemos que o processo é parecido na boa parte dos veículos, mas o menor dos erros já pode causar problemas tanto a você como ao cliente. Por isso, reforçamos o uso de muita atenção e cuidado, sempre respeitando as orientações de desmontagem e substituição do manual da fabricante. Agora, vamos ao passo a passo!
1. Eleve o veículo e remova as rodas
A etapa mais simples de todas e que já garante acesso, espaço e visibilidade para realizar o procedimento da maneira certa.
2. Remova os parafusos e porcas
Com uma chave 19 mm, solte os parafusos de fixação da parte inferior. Então, use um cavalete para apoiar a suspensão e remova o parafuso superior da manga de eixo. As porcas devem ser removidas antes dos parafusos, para que a manga de eixo não caia. Depois, remova as porcas superiores e retire todo o conjunto da suspensão, com a mola, o amortecedor e o kit.
3. Desencaixe o flexível do freio
Esse componente está preso em um suporte, atrás do amortecedor.
4. Desmonte o coxim
O coxim fica preso à carroceria com três parafusos de 13 mm, e a desmontagem deve ser feita com muito cuidado, sem remover os três de uma vez só.
5. Inicie a desmontagem do sistema da suspensão
Leve o conjunto completo para uma bancada e o prenda em uma morsa.
6. Prenda o amortecedor da maneira correta
A fixação na morsa deve ser feita pela parte inferior, na área da abraçadeira de fixação na manga de eixo. Com isso, você evita danos ao conjunto.
7. Comprima a mola
Antes de remover o coxim, você precisará comprimir a mola com um encolhedor.
8. Remova a borracha
Ela serve com uma proteção à porca de fixação do coxim e, nessa etapa, você já pode removê-la.
9. Segure a haste corretamente
Para remover a porca superior, você deve estabilizar o amortecedor da maneira certa. Então, utilize uma chave 9 mm para segurar a haste, evitando que ela gire.
10. Solte a porca superior
Utilize uma chave 19 mm para movimentar e soltar a porca de fixação do coxim. Mas aqui é muito importante que você esteja bastante atento. Para facilitar a desmontagem, você pode apenas aliviar a pressão da porca, pois não é necessário removê-la. Caso remova a porca por completo, a mola pode escapar e causar um acidente sério.
11. Desmonte o conjunto na seguinte sequência
Comece pela porca do coxim, arruela e espaçador do coxim, o coxim de fixação superior, a arruela do prato de apoio da mola, o prato de apoio da mola, a arruela inferior do prato, o conjunto batente, a coifa, o suporte inferior da coifa, a mola e, por fim, o isolador da mola.
12. Avalie o estado dos componentes
Procure por desgastes, avarias e afins, enriquecendo o diagnóstico e passando uma palavra final para o cliente. Inclusive, é nessa etapa que você pode aproveitar para checar o estado da mola. Quando existem sinais de desgaste (oxidação, desplacamento de tinta e marcas de atrito nos elos centrais), é um forte indicativo de que a peça deve ser substituída.
Como estamos falando de troca de amortecedor, aqui também é importante recomendar ao cliente da troca do kit por completo, garantindo que as peças novas não sejam comprometidas pela ineficiência daquelas que já estão gastas.
13. Inicie a montagem o conjunto
Aproveite esse momento para revisar as etapas e conferir veículo no catálogo da fabricante da peça. Nessa altura do campeonato, os amortecedores novos já estão equalizados faz tempo. Então, comece a montagem inserindo o batente no interior da coifa e encaixando-o na haste metálica.
14. Siga a ordem contrária da desmontagem
Basicamente, para todas as peças, você poderá seguir a ordem contrária daquela utilizada na desmontagem. A única exceção fica por conta da mola da suspensão, que deve ser instalada depois do posicionamento da coifa e da arruela inferior do prato.
15. Fixe a porca e solte o encolhedor
A montagem é muito mais simples e intuitiva. Com tudo em ordem, você aperta a porca de fixação na haste e depois, solta o encolhedor— sempre observando os pontos de fixação da mola nos dois pratos, inferior e superior.
16. Monte o conjunto no veículo
Posicione os parafusos de fixação do coxim e da manga de eixo, mas não aplique o aperto final, pois isso deve ser realizado com o carro no chão. Com isso, você faz com que o conjunto se acomode já em sua posição de trabalho. Então, aproveite a elevação para montar as rodas e, então, desça o carro do elevador.
17. Finalize a montagem
Feito isso, basta movimentar a dianteira do veículo para acomodar os componentes da suspensão e, depois, aplicar o aperto final na porca da haste do amortecedor, deixando o conjunto firme e pronto para o uso.
Frisando o que dissemos anteriormente, todo veículo conta com suas próprias particularidades técnicas. O acesso à suspensão do carro pode variar drasticamente entre montadoras e, até mesmo, modelos que não compartilham da mesma geração ou família. Pensando nisso, nós temos uma última dica para a instalação.
O coxim é uma peça importante e conta com um detalhe que pode ajudar você na hora da montagem. Caso o veículo seja mais antigo, equipado com a direção mecânica, a nervura do coxim deve ser voltada para a traseira do veículo durante a instalação.
Já nos modelos com direção hidráulica, esse relevo deve estar direcionado para a frente do carro. Pode parecer um detalhe mínimo, mas esse posicionamento é essencial para a estabilidade do veículo, já que isso afeta diretamente a geometria do automóvel.
Manutenção preventiva
Neste último momento do nosso post, vale a pena trazer algumas curiosidades referentes à manutenção da peça. Sendo um profissional mecânico, você já deve estar acostumado com a quantidade de desinformação que alguns clientes levam para a oficina, não é mesmo? Revisamos algumas dessas questões para que você sustente uma opinião sólida no tema. Veja só!
Diagonal
A velha história do “atravesse lombadas na diagonal” é, na verdade, um mito. Inclusive, esse é um exercício que pode gerar a sobrecarga dos componentes, causando mais desgaste do que preservação. Entre os danos possíveis, listamos empenamentos, folgas, ruídos e afins.
Período
Períodos de manutenção sempre são tema de polêmica. Afinal, o uso variado entre os diferentes proprietários ocasiona margens de desgaste distintas. De toda forma, a substituição é amplamente recomendada para cada 40 mil km, com análises periódicas a cada 10 mil quilômetros.
Pares
Você já ouviu que amortecedor se troca aos pares? Pois bem, essa é uma informação verdadeira, pois considera a desarmonia durante a condução de um veículo com componentes novos de um lado e usados do outro.
Recondicionadas
Em geral, amortecedores recondicionados são uma das maiores farsas técnicas do segmento automotivo. A reposição individual dos componentes de um amortecedor é virtualmente impossível, de maneira que os recondicionadores apenas repintam a peça e substituem seu fluido. Além disso, essas peças recebem lubrificantes inadequados, de maneira a prejudicar o comportamento dinâmico do veículo e a segurança de seus ocupantes.
Aquaplanagem
A probabilidade de aquaplanagem é, sim, maior em veículos com amortecedores gastos. As peças defeituosas ocasionam a perda de contato com o solo a partir de 109 km/h, enquanto as novas só geram o fenômeno acima de 125 km/h. No fim das contas, essa diferença de 16 km/h pode ser determinante para a sobrevivência dos ocupantes do veículo, não é mesmo?
E assim, encerramos mais este post, de modo que nos certificamos que você está recebendo a melhor informação, com o nosso crivo de qualidade e confiabilidade. Por fim, vale apenas ressaltar sobre a importância de uma comunicação franca e didática com o seu cliente, explorando os prejuízos e riscos que ele tem ao utilizar peças recondicionadas.
Gostou do nosso conteúdo? Então se prepara por que ainda tem muita coisa legal! Dá só uma olhada nestes vídeos que preparamos sobre troca de amortecedor:
Quer mais? Então acesse a nossa playlist no YouTube e aproveite!
Afinal, a segurança do seu cliente é parte fundamental da manutenção do seu negócio, não é mesmo? Agora, nos diga: você gostou deste conteúdo sobre a troca de amortecedor? Então, não perca a oportunidade de conhecer nosso catálogo!