Semicondutores em falta. Afinal, qual a importância desse componente?
A falta de semicondutores no mundo impediu a indústria automotiva a produzir, somente este ano, mais de 1,2 milhões de veículos globalmente, de acordo com a AutoForecast Solutions, empresa de Business Intelligence que fornece serviços de consultoria para as montadoras. O motivo ainda é a pandemia de Covid-19, que desde 2019 fechou diversas fábricas chinesas produtoras do componente e, até o momento, não conseguiu reestabelecer a produção de acordo com a demanda mundial.
Ocorre, ainda, que com a pandemia, muitas montadoras fecharam as fábricas também e, com isso, suspenderam os pedidos de semicondutores aos fornecedores. Com mais pessoas trabalhando em casa, houve aumento no consumo de eletrônicos, como televisores, smartphones, computadores, videogames etc., o que elevou a demanda por esses componentes.
Muita demanda, pouca produção. Um cenário propício para a inflação. Claro que os semicondutores ficaram mais caros, ainda mais com as dificuldades logísticas que a pandemia provocou.
A pandemia praticamente acabou, mas a crise dos semicondutores não. Pelo contrário, se agravou, pois com o retorno da indústria automotiva, a demanda pelo componente cresceu mais ainda. E, como haviam cancelado os pedidos, foram parar no fim da fila.
Na era tecnológica que o planeta vive atualmente, semicondutores é a base de tudo. Do brinquedo infantil ao automóvel, eletrodoméstico, televisão, videogame, enfim, quase tudo que é manufaturado. Mas, no setor automotivo, nem sempre foi assim…
Os automóveis no Brasil começaram a ganhar componentes eletrônicos na década de 1980, com a adoção dos sistemas de injeção eletrônica. Ao invés do carburador, um componente 100% mecânico, um pequeno chip passava a controlar a quantidade de combustível a ser injetado no motor.
O setor automotivo gostou muito de usar eletrônica nos veículos. Gostou não é bem o termo, pois foram praticamente obrigados a encontrar soluções para os automóveis serem mais eficientes energeticamente, ou seja, poluir menos. Mas, mesmo tendo sido obrigados, foi uma mudança que hoje é vista como uma necessidade. É praticamente impossível que qualquer montadora de veículo retorne ao sistema de carburação antigo, a não ser que encontrem uma solução 100% mecânica tão boa quanto.
Um único veículo moderno consome em torno de 1100 semicondutores, e não estão restritos apenas ao gerenciamento do motor, como solução para emitir menos gases poluentes, mas, também, em sistemas de conforto, segurança, entretenimento e conectividade. Em outras palavras, em quase todo automóvel é possível encontrar um semicondutor.
O que é?
Um semicondutor é o efeito que um elemento químico apresenta de ser isolante ou condutor de energia elétrica, dependendo da temperatura ou outro estímulo. Em 1833, Michael Faraday, descobriu que a resistência do Sulfato de Prata apresentava um efeito contrário ao esperado com outros materiais: diminuía com o aumento da temperatura. Anos mais tarde, descobriu-se o efeito semicondutor em alguns sulfetos metálicos, como o sulfeto de chumbo e o sulfeto de ferro.
Atualmente, os semicondutores são a matéria-prima para a fabricação de componentes eletrônicos como diodos, transistores, microprocessadores, enfim, quase tudo que existe em uma placa de circuito.
Amplo uso
Se, na década de 1980, os chips eram novidade no gerenciamento do motor, hoje estão por toda parte. Os freios são eletronicamente controlados por uma central, que recebe informações da roda, para evitar o travamento e o excesso de giro, por exemplo.
Em alguns modelos Premium, a suspensão é gerenciada eletronicamente por uma central, que recebe informações da inclinação do veículo. Se atingir um determinado ponto, a central da suspensão conversa com a do freio e ambas agem para tentar impedir o capotamento do veículo.
Os sistemas de conforto também são controlados eletronicamente, com centrais que gerenciam a temperatura do ar-condicionado, por exemplo. Em dias muito frios, mesmo que o motorista ligue o botão do ar, o compressor não liga, pois recebe informação da centra de que a temperatura externa está já baixa.
Até mesmo os faróis são controlados por centrais eletrônicas, principalmente nos veículos que possuem acionamento automático dos faróis (baixo e alto). Um dispositivo eletrônico informa à central que a luminosidade está baixa e é hora de acender os faróis. Nos veículos que possuem comutação automática de farol alto, uma câmera identifica que não há veículos à frente, e informa à central que é seguro ligar o farol alto, e vice-versa.