Cuidados importantes na manutenção de pistão e anéis

Quando o cliente entra na oficina com um problema sério no motor do veículo, todos sabem que o conserto vai demorar e a conta será grande. Mas o que era ruim pode ficar bem pior: muitas vezes, o defeito volta pouco tempo depois! Diante do prejuízo dobrado, sobram acusações entre todos e não é raro o caso acabar na justiça.
Para você ficar longe dessas situações, nós preparamos um roteiro com uma série de cuidados importantes durante a manutenção dos problemas de pistão e anéis. São procedimentos simples e rápidos, mas que fazem uma grande diferença. Gostou do tema? Siga com a gente e reforce seus conhecimentos sobre a manutenção automotiva!
Passo 1: estrutura necessária
Para consertar os motores modernos, é fundamental estar bem atualizado e estruturado. Não adianta tentar improvisar. É preciso ter acesso aos manuais de serviço originais, reunir as tabelas técnicas dos fabricantes das peças, ter um bom scanner e contar com uma área dedicada, extremamente limpa e organizada, para fazer as montagens.
Também é necessário investir em ferramentas. Além do básico, a oficina deve ter um paquímetro, micrômetro, súbito, relógio comparador, calibre de lâminas, alicate e cinta para os anéis, torquímetro, chave de aperto angular, jogos do tipo “torx” (hexalobular) e, atualmente, é importante contar com equipamentos para a verificação da parte elétrica.
Passo 2: análise preliminar
Ao contrário do que acontecia no passado, os motores atuais são projetados para durar centenas de milhares de quilômetros. Quando quebram, fique atento! Quase sempre é a consequência de um descuido do motorista, uma falha em outro sistema ou um erro de uma manutenção anterior. Investigue a fundo até descobrir a causa.
As marcas no pistão e anéis usados também podem indicar o que aconteceu:
Riscos: geralmente são causados por problemas no sistema de filtragem do ar ou a falta de uma limpeza profunda no bloco e cabeçote depois que voltaram da retífica.
Carbonização: se o motor não tiver uma alta quilometragem, avalie os anéis e procure algum erro de montagem. Outra causa comum são as falhas de vedação nas válvulas.
Marcas diagonais: podem ser provocadas por bielas empenadas ou torcidas. Também existem motores que usam peças com lado certo de montagem, é importante pesquisar.
Superaquecimento: além de defeitos no sistema de arrefecimento, pode indicar alguma limitação na lubrificação ou a falta de cuidado com as trocas de óleo e o nível da água.
Trincas e quebras: estão muito ligadas às usinagens feitas sem critério técnico, como o excesso de “passes” no cabeçote ou bloco. Outro erro é “facear” o pistão no torno.
Passo 3: revisão completa
Na hora de reparar um motor, o principal problema é economizar ao máximo. Quase sempre, os clientes querem soluções rápidas e baratas. Se o mecânico concorda, o risco de ter muita “dor de cabeça” é grande, mesmo deixando tudo registrado na nota fiscal. Em caso de quebra, podem mover uma ação judicial ou difamar a oficina.
O ideal é avaliar tudo, dar o orçamento certo e nunca fazer uma “meia sola”. A troca apenas de pistão, anéis e camisas (em alguns modelos) deve ser feita em motores com baixa quilometragem que tiveram uma quebra acidental. Mesmo assim, com o suporte da retífica. Se estiver muito rodado, é preciso recondicionar por completo.
Durante a inspeção geral, fique atento aos seguintes pontos na hora de orçar:
Componentes internos: com uma tabela técnica, confira as principais medidas. Também examine cada peça. As quebras podem contaminar o óleo e danificar tudo.
Vedações e borrachas: todas as juntas, retentores, o-rings e selos precisam ser trocados. Para aproveitar melhor o trabalho, avalie o estado dos coxins do motor.
Acionamento do comando: nos modelos com correia dentada e tensionador, a troca deve ser completa. Se for uma versão com corrente, deverá passar por uma revisão.
Sistema de lubrificação: é recomendado trocar a bomba, limpar o cárter e seu sistema de ventilação, avaliar as galerias, os furos nos componentes e os injetores de pistão.
Circuito de arrefecimento: é necessário fazer uma limpeza profunda e trocar tudo o que estiver “mais ou menos”: bomba, válvula termostática, sensores, mangueiras, etc.
Ignição e injeção: além de checar com o scanner, o ideal é limpar os bicos e o corpo da borboleta, examinar o catalisador, trocar as velas, testar os cabos e avaliar o chicote.
Filtragem do ar: é uma grande fonte de problemas, principalmente se existirem peças riscadas. Além da troca do filtro, inspecione as caixas plásticas, dutos e abraçadeiras.
Movidos a diesel: necessitam de outros cuidados, a começar pela inspeção técnica da bomba injetora. Também verifique o estado dos filtros, da turbina e do intercooler.
Outro ponto de atenção é com a manutenção dos motores convertidos em oficinas, geralmente para rodar com etanol ou GNV. Como é uma adaptação, os pistões, anéis, camisas e outros componentes internos podem ter um desgaste maior. O pior é que os fabricantes das peças costumam anular a garantia, por “aplicação fora do indicado”.
Passo 4: montagem caprichada
A montagem de um motor, mesmo parcial, está entre os trabalhos mais difíceis de um mecânico. Além de reunir todo o ferramental e os manuais técnicos, é preciso comprar as peças certas, ser rigoroso com a limpeza, fazer tudo com calma e concentração. Quase sempre, as quebras prematuras são causadas por pequenos descuidos.
Na hora de montar um novo jogo de pistões e anéis, procure seguir esses passos:
Peças retificadas: faça uma lavagem profunda, limpe as galerias, furos e injetores dos pistões. Depois, unte os cilindros com óleo e passe uma toalha de papel para limpar.
Brunimento dos cilindros: é decisivo para o bom funcionamento e a durabilidade do motor. Para você ficar seguro, exija da retífica uma medição com o rugosímetro.
Montagens invertidas: são responsáveis pela maioria das falhas precoces. Siga o manual de serviço, a tabela técnica e, em caso de dúvida, ligue para o fabricante.
Pistões: compre o modelo exato para o motor. Não confie apenas na medida, porque existem diferenças internas. Com o manual e a tabela, “decifre” as setas e os códigos.
Folga com o cilindro: com o micrômetro e o súbito, meça os diâmetros do pistão e do cilindro. Veja se a folga está dentro dos valores recomendados pelo fabricante.
Anéis: a exemplo dos pistões, é preciso ficar atento com as indicações de lado de montagem (como deixar a palavra “top” para cima) e a medição da folga entre pontas.
Mola do anel: nos anéis de óleo de três peças, tenha muito cuidado ao montar a mola. Suas pontas não podem ser cortadas, estar quebradas ou ficarem remontadas.
Bielas: alguns modelos têm lado de montagem, fique atento. Se o encaixe do pino for “a quente”, use um forno, nunca o maçarico. Ao final, confira cada trava com atenção.
Colas: aplique cola, junta líquida ou trava-rosca apenas nos pontos indicados pelo manual de serviço e não exagere. Se surgir um vazamento, não “disfarce” colando.
Apertos: siga o manual de serviço e use sempre o torquímetro. No cabeçote, bombas e coletores o aperto segue uma sequência. Também utilize a chave de aperto angular.
Regulagem: verifique se os pontos de ignição e injeção estão perfeitos. Em alguns motores, as polias e engrenagens trazem marcações do lado certo de montagem.
Lubrificação e aditivação: para finalizar o serviço, instale os filtros novos e abasteça os sistemas de lubrificação e arrefecimento conforme indica o manual do veículo.
Passo 5: conversa com o cliente
Além de fazer uma montagem perfeita, é muito importante orientar o cliente na entrega do veículo. Fale sobre o “amaciamento”, a importância de antecipar a primeira troca de óleo, sempre checar o nível do líquido de arrefecimento, não abastecer em postos muito baratos e procurar a oficina imediatamente se notar algo errado com o motor.
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